Boletim 2247 – Salvador, 29 de junho de 2020
Em 29 de junho de 2010, um duplo e brutal assassinato chocou a população de Salvador. Era final da tarde quando o casal Paulo Colombiano e Catarina Galindo parou o carro em frente ao condomínio onde moravam. Tinha tudo para ser mais um final de dia de trabalho, como tantos outros anteriores. Mas não foi. Enquanto esperavam a abertura do portão, uma dupla apareceu numa moto e desferiu vários tiros, matando-os instantaneamente.
Uma década depois, os amigos e familiares de Colombiano e Catarina esperam por uma justiça que insiste em não ser ágil quando os réus são ricos e poderosos. Os mandantes do duplo assassinato, conforme a investigação policial concluiu, os irmãos Claudomiro e Cássio Santana, são empresários na capital baiana, donos de um plano de saúde e de um grande supermercado atacadista.
Um dos mandantes, Claudomiro Santana, inclusive, é oficial da reserva da polícia baiana. Já os executores do crime foram três empregados dos irmãos: Edilson Duarte de Araújo, Adailton de Jesus e Wagner Luiz Lopes. Todos se encontram soltos, respondendo em liberdade pelo crime que cometeram e continuam impunes.
O movimento sindical baiano também junta-se a familiares e amigos exigindo a punição dos criminosos. Colombiano era tesoureiro do Sindicato dos Rodoviários e foi vítima de emboscada porque investigava desvios de dinheiro no plano de saúde da categoria, que beneficiava a Mastermed, empresa dos dois mandantes do crime.
Neste domingo (28), a família divulgou uma carta à sociedade baiana. Veja a íntegra abaixo.
“No dia 29/06 (segunda-feira), chegamos a 10 anos do cruel e brutal assassinato de nossos entes queridos Paulo Colombiano e Catarina Galindo. A investigação policial concluiu, com provas robustas, que os mandantes do crime foram os irmãos Claudomiro e Cássio Santana, tese corroborada pelo Ministério Público da Bahia. O motivo do crime é conhecido: Paulo Colombiano tinha sugerido rever o contrato do plano de saúde do Sindicato dos Rodoviários da empresa Mastermed, de propriedade dos acusados, considerado por ele lesivo aos interesses da categoria. Os executores identificados foram os funcionários dos irmãos, Edilson Duarte de Araújo, Adailton de Jesus e Wagner Luiz Lopes.
Para nós, não foi surpresa o resultado da investigação, na medida em que Colombiano comunicara, pouco tempo antes do crime, a amigos e familiares, que estava recebendo ameaças de morte por conta de ter proposto a revisão de um extorsivo plano, que injetava milhões nas contas dos dois empresários milionários.
Todos sabemos que a justiça brasileira é elitista, seletiva e estruturalmente lenta. Não é estranho o fato de dois homens brancos e ricos terem mandado matar duas pessoas negras e estarem livres por tempo indeterminado. Se fosse o contrário, dois negros terem planejado executar dois brancos ricos, certamente eles seriam jogados imediatamente numa penitenciária, com a hipótese não rara de nem haver a abertura correta de um processo judicial, com a decretação de prisão preventiva interminável, por exemplo. O fato de um deles, o Claudomiro Santana, ser oficial aposentado da Polícia Militar, é outro elemento que se encaixa no roteiro da impunidade de alguns criminosos oriundos dessa corporação.
Desde o início, era previsto que uma banca de advogados contratados a peso de ouro pelos criminosos faria toda a sorte de chicana jurídica para postergar indefinidamente o processo. Mas, passados dez anos do crime sem que os acusados compareçam a um júri popular, chega a ser vergonhosa e revoltante a constatação de que a impunidade reina. É mais revoltante ainda saber que, no estágio em que se encontra o processo – e com todas as próximas manobras de procrastinação que virão da defesa -, os criminosos ainda vão curtir a boa vida de endinheirados por muito tempo, sem que sejam efetivamente julgados e condenados.
Neste momento dos dez anos do bárbaro crime cometido por usura e avareza de assassinos gananciosos e covardes, cobramos mais uma vez que a justiça baiana trate desse caso com o empenho e a celeridade necessárias que a situação requer.
Não suportamos mais conviver com a ideia de que os responsáveis pela morte de nossos parentes possam vir a escapar de um julgamento.
Exigimos que o Tribunal de Justiça da Bahia tome providências urgentes para punir os responsáveis por esse brutal crime que chocou a sociedade baiana.
Salvador – BA, 28 de junho de 2020
Familiares de Colombiano e Catarina.”