Boletim Eletrônico nº. 485 – Salvador, 20 de novembro de 2009
Uma reflexão coletiva, e também individual
Foi em 20 de novembro de 1695 que as tropas do império português, apoiadas por milícias patrocinadas por senhores de escravos, invadiu e matou os habitantes do Quilombo dos Palmares, em Alagoas, entre os quais o líder Zumbi, infligindo uma derrota à luta dos negros pela libertação da escravidão. Passados mais de três séculos desde então, a história vai sendo recontada para recuperar a parte que foi propositadamente omitida, pelas elites, que sempre usou sua visão etnocentrista da formação da sociedade brasileira para esconder a importância do povo negro no Brasil Colônia até os dias atuais.
Hoje, em quase 700 cidades do Brasil o 20 de novembro, data da queda dos Palmares e da morte de Zumbi, já é feriado municipal. Um reconhecimento, mesmo que tardio, da importância da luta dos negros pela liberdade e de como isso foi importante para a consolidação de novas bases políticas da Nação no final do século XIX.
Porém, mesmo com a abolição, a senzala deu lugar às favelas e o corte da cana foi substituído pelos trabalhos vulneráveis. No Brasil, os negros são os que ganham menos, os que ocupam os empregos precários, os que mais estão nos serviços domésticos, os que mais sofrem com a violência e as maiores vítimas do desemprego. Ou seja, estão na base da pirâmide social.
O Índice de Desenvolvimento Humano da ONU (IDH), que mede a qualidade de vida de 0 a 1 e levando em conta renda, educação e condições sanitárias e de saúde, dá a exata medida disso que falamos acima. Na medida do índice, quanto mais próximo de 1, melhor a qualidade de vida. E, em nosso país, os brancos se aproximam do primeiro mundo, enquanto os negros estão mais próximos do índice africano. Os brasileiros brancos possuem IDH (Índice de Desenvolvimento Humano da ONU) de 0,796, para uma média nacional é de 0,75. Já o IDH dos negros é de 0,600.
De acordo com os dados do Provão do MEC (hoje Enade), dos formandos que fizeram o provão em 2000 nos cursos de Administração, Direito, Medicina Veterinária, Odontologia, Medicina, Jornalismo e Psicologia, dentre outros, mais de 80% é constituído por brancos (respectivamente, 83,3%, 84,1%, 84,9%, 85,8%, 81,6%, 81,5% e 83,3%). Por sua vez, para os mesmos cursos, os negros aparecem nos seguintes percentuais: 1,6%, 2,0%, 1,1%, 0,7%, 1,0%, 2,9% e 1,6%. A situação melhora quando sai dos cursos chamados mais “elitizados”, porém o percentual é ainda bem desvantajoso.
Porém, o quadro mostra que mesmo quando o negro chega à universidade, essa inserção se dá muito aquém de uma oportunidade real de ascensão social. No mercado de trabalho não é diferente. Apenas 2% dos cargos de direção geral ou média em 114 grandes empresas do país são ocupadas por negros, segundo pesquisa desenvolvida pela Previ, Fundo de Pensão dos Empregados do Banco do Brasil.
Ou seja, no dia 20 de novembro, além de comemorar a data e ajudar a reescrever nossa história, devemos refletir sobre como iremos construir uma sociedade verdadeiramente mais justa do ponto de vista racial. E que passos estamos dando no rumo de uma verdadeira libertação.
Sindsefaz,
Atuação e Luta