Boletim Eletrônico n°. 679 – Salvador 22 de novembro de 2011
À “REVOLTA DA CHIBATA”
O Mestre-Sala dos Mares, de João Bosco e Aldir Blanc, composta nos anos 70, imortalizou João Cândido e a Revolta da Chibata. Como diz a música, seu monumento estará para sempre “nas pedras pisadas do cais”. A mensagem de coragem e liberdade do “Almirante Negro” e seus companheiros resiste.
Sobre a censura à música, o compositor Aldir Blanc conta: “Tivemos diversos problemas com a censura. Ouvimos ameaças veladas de que a Marinha não toleraria loas a um marinheiro que quebrou a hierarquia e matou oficiais, etc. Fomos várias vezes censurados, apesar das mudanças que fazíamos, tentando não mutilar o que considerávamos as idéias principais da letra.
Minha última ida ao Departamento de Censura, então funcionando no Palácio do Catete, me marcou profundamente. Um sujeito, bancando o durão, (…) mãos na cintura, eu sentado numa cadeira e ele de pé, com a coronha da arma no coldre há uns três centímetros do meu nariz.
Aí, um outro, bancando o “bonzinho”, disse mais ou menos o seguinte:
• Vocês não então entendendo… Estão trocando as palavras como revolta, sangue, etc. e não é aí que a coisa tá pegando…
• Eu, claro, perguntei educadamente se ele poderia me esclarecer melhor. E, como se tivesse levado um “telefone” nos tímpanos, ouvi, estarrecido a resposta, em voz mais baixa, gutural, cheia de mistério, como quem dá uma dica perigosa:
• O problema é essa história de negro, negro, negro…”
(João Bosco / Aldir Blanc)
(letra original sem censura)
Há muito tempo nas águas da Guanabara/
O dragão do mar reapareceu/
Na figura de um bravo marinheiro/
A quem a história não esqueceu/
Conhecido como o almirante negro/
Tinha a dignidade de um mestre sala/
E ao navegar pelo mar com seu bloco de fragatas/
Foi saudado no porto pelas mocinhas francesas/
Jovens polacas e por batalhões de mulatas/
Rubras cascatas jorravam das costas/
dos negros pelas pontas das chibatas/
Inundando o coração de toda tripulação/
Que a exemplo do marinheiro gritava então/
Glória aos piratas, às mulatas, às sereias/
Glória à farofa, à cachaça, às baleias/
Glória a todas as lutas inglórias/
Que através da nossa história/
Não esquecemos jamais/
Salve o almirante negro/
Que tem por monumento/
As pedras pisadas do cais/
Mas faz muito tempo/
Áudio e Letra após censura (durante ditadura militar)
(João Bosco / Aldir Blanc)
(letra após censura durante ditadura militar)
Há muito tempo nas águas da Guanabara/
O dragão do mar reapareceu/
Na figura de um bravo feiticeiro/
A quem a história não esqueceu/
Conhecido como o navegante negro/
Tinha a dignidade de um mestre sala/
E ao acenar pelo mar na alegria das regatas/
Foi saudado no porto pelas mocinhas francesas/
Jovens polacas e por batalhões de mulatas/
Rubras cascatas jorravam das costas/
Dos santos entre cantos e chibatas/
Inundando o coração do pessoal do porão/
Que a exemplo do feiticeiro gritava então/
Glória aos piratas, às mulatas, às sereias/
Glória à farofa, à cachaça, às baleias/
Glória a todas as lutas inglórias/
Que através da nossa história/
Não esquecemos jamais/
Salve o navegante negro/
Que tem por monumento/
As pedras pisadas do cais/
Mas faz muito tempo
Consolidando Vitórias