20/03/17 – Viomundo
Com Lula e Dilma, o Sertão festeja a inauguração da transposição do São Francisco; veja ao vivo aqui
Montagem com fotos de Ricardo Stuckert (Dilma e Lula), Felipe Kfouri e Sérgio Silva (moradores de Monteiro e trecho da transposição do São Francisco em Monteiro, na PB)
A espera por Lula e Dilma
por Otavio Antunes, do site da Fundação Perseu Abramo, 18/03/2017
— Posso mandar um recado pra Lula? Vem Titio! Vem Mamãe! — referindo-se a Dilma — Pra gente encher vocês de abraços.
É desse jeito que “Doutor”, apelido de Alfredo Alves Pontiero, ao perceber as câmeras, dirige-se à nossa equipe, na cidade de Monteiro (PB), que recebeu um trecho da transposição do Rio São Francisco. E ele não é o único a falar de forma carinhosa dos ex-presidentes.
Percorremos o trajeto entre João Pessoa e Monteiro, 311 km, devagar, ouvindo as pessoas sobre o País, o estado, e principalmente a região.
“Doutor” ou Alfredo Alves Pontier
Existe um sentimento genuíno e comovente de gratidão a Lula e Dilma. Há pouco mais 55 km de João Pessoa, paramos na cidade de Sobrado, em uma barraca na beira da estrada.
Tomamos água de coco e ouvimos a história do Senhor Marcos Vinicius Trigueiro Barbosa e Silva.
— Criei, ali mesmo — aponta para uma casa de teto vermelhinho e cercado por um lindo pomar — toda minha família. Meus irmãos são daqui também. Só não está conosco o meu filho, que mora em João Pessoa, onde faz o curso de engenharia na Federal. Quem ia imaginar que ficaria mais fácil fazer uma faculdade, né? Meu filho vai ser engenheiro! — relata orgulhoso.
Marcos Vinicius Trigueiro Barbosa e Silva
E não é nem preciso perguntar o que mudou nos últimos anos para que ele diga:
— Lula, meu filho. Foi Lula, o nosso presidente. Nunca ninguém tinha cuidado da gente desse jeito. Foi tanta coisa. Educação, Bolsa Família, emprego melhorou muito… agora piorou de novo, né? E essa maravilha da água, que ninguém acreditou nele quando disse que ia trazer. Daqui vai sair muita caravana pra Monteiro. O povo vai tudo lá agradecer o Lula.
A cada quilometro distante de João Pessoa a paisagem vai ficando um pouco mais árida. Não demora até começarmos a cruzar com rios completamente secos no trajeto, como o Riacho Caboclo.
Em mais algumas paradas, descobrimos que o povo sertanejo não reclama da seca e da natureza. Ao contrário: aceita resignado o clima da região.
— Não se luta contra a falta de chuva. A natureza tem o tempo dela. A gente tem é que ter inteligência para viver bem entre as chuvas. É difícil. Muito difícil! Mas agora a gente tem cisterna, caixa, poço; antes era ainda mais difícil. Faz sete anos que não chove direito aqui.
Sete anos! E nós estamos firmes, porque ainda tem o seguro safra. Foi a melhor coisa que Lula fez, porque a gente planta e lida na terra com muito carinho, mas as vezes não chove. E antes a gente perdia tudo quando isso acontecia. Agora estamos protegidos — relata Roberto Gomes.
Roberto Gomes (dir) e Cícero (esq)
Chegando em Monteiro, a primeira coisa que avistamos é o Rio Paraíba. Mas este é um rio diferente: uma estrutura de concreto contrasta com as margens verdinhas do leito.
Crianças e adolescentes mergulham e fazem piruetas em um ritmo frenético, para depois subirem rapidamente uma rampa improvisada e mergulharem novamente.
Tudo sob o olhar atento de curiosos que aplaudem e sorriem a cada mergulho. A cada salto, alguém mais velho alerta:
— Cuidado, menino! Do lado de lá é pedra e aqui tem muito ferro — referindo-se aos limites do poço artificial que se formou no ponto de encontro entre o Rio e a estrutura da transposição.
Ligamos as câmeras e novamente as pessoas se aproximam para falar.
— Nem dormi direito nesses dias. Fiz bandeira, camiseta e tô preparado pra receber Lula e Dilma. Vem que vou te abraçar com minhas mãos e meus pés Lula — diz um sorridente Lucivanio Sousa Santos, ou Vaninho, como seus amigos o chamam.
O personagem inicial da nossa matéria, o “Doutor” Alfredo, ainda emenda um convite simbólico e cheio de significados a Lula:
— Titio! Venha, Titio, comer bode mais nós e toma uma mais nós, com limão e um bodinho. Pirão de peixe! Estamos esperando, Titio, com os braços abertos. Venha morar em Monteiro mais a gente! Quem matou a fome dos pobres foi titio Lula, não foi outro não. Primeiro Deus, depois Titio. Matou a fome dos pobres, a sede dos pobres, foi Titio. Se não fosse Titio, os pobres estavam lascados, não tinha mais pobre vivo não.
A cidade respira a visita. É o grande assunto em todas as rodas de conversa.
Lula e Dilma terão, certamente, uma calorosa e acolhedora recepção.
PS do Viomundo: Viram os anúncios do usurpador assumindo a obra do São Francisco? Nojentos.
em 18/03/17