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Congresso debaterá as transformações do mundo do trabalho e o futuro do sindicalismo

O sociólogo Clemente Ganz Lúcio será o primeiro palestrante do segundo dia do 3º Congresso Estadual dos Fazendários, quinta (19). Ex-Diretor Técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Atualmente consultor do Fórum de Centrais Sindicais, ele falará do tema “As Transformações do Mundo do Trabalho e o Futuro da Atuação Sindical”.

Clemente vem se dedicando nos últimos anos ao estudo sobre as enormes transformações ocorridas no mundo do trabalho e no sistema produtivo, e de como essas profundas mudanças intervieram no meio social e na forma de atuação sindical. Para ele, está imposto um novo paradigma que engendrou outras dinâmicas econômicas, culturais e políticas em contextos sociais concretos, com situações, modo de ser e de existir inéditos.

Sua palestra deve avançar para além de tudo o que aconteceu até 2017, quando o governo golpista de Michel Temer promoveu no Brasil a reforma trabalhista e aprovou a lei da terceirização irrestrita, interagindo com o impacto neste momento da utilização da inteligência artificial generativa (nisso fará interface com outra palestra do evento, a do professor Victor Zamberlan, que ocorrerá na manhã de sexta, dia 20).

Novo mundo

Clemente avalia que esse novo universo que irrompe no mundo do trabalho deverá obrigar o movimento sindical a uma nova e mais intensa transformação. Na medida em que o estado, empresas, instituições, as comunicações – e quase tudo o que conhecemos e que envolve trabalho e sociedade – passam por mudanças disruptivas, que se aprofundam radicalmente, mais o sindicalismo brasileiro está desafiado a realizar as suas mudanças, capazes de reestruturar a própria capacidade de representação, organização e de promover a luta coletiva dos trabalhadores em um contexto adverso e complexo.

Diante de um cenário no qual o ritmo de inovações é vertiginoso e à luz da experiência atual, que está sendo insuficiente para enfrentar um mundo do trabalho complexo e desigual, resultante de três revoluções industriais e tecnológicas, “o sindicato do futuro”, para Clemente, depende de ações e estratégias elaboradas pelos atuais ativistas, no curto e no médio prazo. Por exemplo, é preciso promover alterações na organização, no patrimônio, na administração, nos serviços e nas formas de representação, além de se abrir à renovação, imperativo para este momento em que ainda se vive a transição.

Em uma situação em que tudo está se tornando muito diferente daquilo que se conhece, o sindicato tem o desafio de se reinventar para ser coetâneo e para isso precisará atrair os milhões de jovens trabalhadores desse universo, gente que está muito longe, afastada do sindicalismo. Isso porque, teoriza, é essa geração que cresceu integrada à nova tecnologia que será capaz de, em cima das contradições inerentes ao próprio estágio do capitalismo, encontrar as soluções que tragam melhorias nesse novo cenário.

Visão classista

Isso não quer dizer que vivemos um cenário de terra arrasada. Muito pelo contrário, pois é do acúmulo vivenciado nas últimas décadas pelo sindicalismo que sairá a inspiração para a transformação de práticas e superação de antigos hábitos. O Sindsefaz é um exemplo vivo de como uma visão classista de sindicato pode ser capaz de viajar no tempo e apontar os caminhos.

Em 1996, quando novos e mais sindicatos ainda surgiam no Brasil, a capacidade de importantes dirigentes vislumbrou que, para enfrentar o arrocho salarial e as pressões de governos prepotentes na Bahia, era preciso unir toda a Secretaria da Fazenda em uma única entidade para lutar pelo todo.

Hoje, 28 anos depois, mesmo que ainda tenhamos que conviver com dissidência individualista e sectária, ter um sindicato que visualize o conjunto e não a unidade é um alento alvissareiro. Isso porque, no serviço público, em governos de qualquer diapasão ideológico, assistimos ao enfraquecimento do instituto do concurso público e a desvalorização das carreiras, com contratações as mais variadas via Reda, Terceirização, Consultorias etc. Parece bastante acertado que a unidade é a melhor forma de enfrentar os desafios. Sob a égide da sanha liberal, parece claro que não sobrarão fortes à luta solitária.

Sindicato do futuro

Portanto, mais que nunca, fortalecer as entidades sindicais é o caminho. E isso deve ocorrer em novas bases, fazendo emergir uma “alma sindical” compatível com o novo mundo que surge, capaz de beber na fonte das contradições que essas transformações criarão no sistema produtivo e nas relações sociais de produção, para tirar daí a melhor forma de organização e ação. 

“O projeto de sindicato do futuro deve colocar os trabalhadores em movimento, para que descubram o sentido da luta, renovem a solidariedade, descubram a força social e política e passem a acreditar nas possibilidades de justiça e de igualdade como projeto de sociedade”, defende Clemente Lúcio. Para ele, por fim, a reorganização sindical deve ser um projeto de transição que aposta no sindicato como instrumento a ser renovado pelas lutas dos novos trabalhadores.

Salvador, 05 de setembro de 2024 | Boletim 3017

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