UOL – 06/09/2013
Obama promete ao Brasil esclarecer preocupação sobre espionagem
Do UOL, em São Paulo
O presidente americano Barack Obama prometeu aos seus correspondentes do Brasil, Dilma Rousseff, e do México, Enrique Peña Nieto, que os Estados Unidos trabalharão em conjunto para esclarecer as preocupações provocadas pelas revelações de espionagem americana contra os dois países.
A informação foi dada nesta sexta-feira (6) por Ben Rhodes, conselheiro adjunto de segurança nacional para as comunicações estratégicas dos Estados Unidos.
“Se trata de um processo contínuo que manteremos com os governos mexicano e brasileiro”, completou o conselheiro.
Ainda segundo a fonte do governo americano, esse foi o teor da conversa do encontro que o presidente Barack Obama teve, nesta quinta-feira (5), com a presidente Dilma Rousseff, à margem da reunião do G20, em São Petersburgo (Rússia).
A Casa Branca e o Palácio do Planalto já haviam confirmado o encontro, mas não o teor da conversa.
O encontro entre os presidentes veio pouco depois do cancelamento da viagem de uma missão técnica brasileira aos Estados Unidos para preparar a visita oficial que a presidente deve fazer a Washington em 23 de outubro.
O Brasil havia solicitado explicações formais e por escrito aos Estados Unidos após uma reportagem da TV Globo revelar, no último fim de semana, a existência de documentos secretos, vazados pelo ex-técnico da CIA Edward Snowden, que mostram que a inteligência norte-americana teria monitorado conversas entre Dilma e seus principais assessores.
Veja Álbum de fotos
O grampo afetaria também comunicações do presidente do México, Henrique Peña Nieto, segundo a denúncia. Nieto disse durante entrevista na cúpula que conversou com Obama e que este assegurou que vai promover uma “investigação completa”.
“Ele me informou de forma clara que ele também está interessado em resolver a questão para que ela não vire algo que eventualmente possa manchar o relacionamento que estamos construindo”, disse o presidente mexicano em entrevista à rede de TV local Televisa.
Segundo a Casa Branca, o encontro entre Obama e Dilma aconteceu na quinta-feira à noite (hora local), entre a primeira reunião plenária do G20 e o jantar” de trabalho. De acordo com o Twitter do Blog do Planalto, a reunião ocorreu logo depois da abertura do evento.
Obama e Dilma chegaram sozinhos ao jantar oficial do G20, ontem, e muito atrasados em comparação com os demais chefes de Estado e de governo. O americano caminhava sozinho por volta das 17h50 GMT (14h50 de Brasília), cerca de meia-hora após o restante dos convidados, pela avenida que leva ao palácio de Peterhof.
Pouco antes foi a vez de Dilma passar pelo local, também atrasada. As relações entre Brasil e Estados Unidos foram afetadas pelas recentes revelações da imprensa segundo as quais a presidente brasileira foi alvo de espionagem por agência americana.
Mais cedo, um assessor da Casa Branca havia dito que o presidente americano deveria explicar pessoalmente à Dilma “a natureza dos esforços de inteligência” dos EUA, após denúncias de que conversas da brasileira teriam sido espionadas pela NSA (agência nacional de segurança).
Ben Rhodes disse que “a relação com o Brasil é muito importante (para os EUA), não apenas nas Américas, mas no mundo”. “Entendemos o quanto isso [a questão de espionagem] é importante para os brasileiros. O que estamos fazendo neste caso, como fizemos desde que as revelações sobre a NSA vieram à tona, é olhar amplamente às alegações e aos fatos”, agregou o assessor.
“Coletamos dados de inteligência sobre praticamente todos os países do mundo. Se há preocupações que possamos esclarecer, faremos isso.”
Veja Álbum de fotos
Mal-estar
As revelações de espionagem causaram mal-estar relação bilateral e colocaram em dúvida a visita de Estado que Dilma deve fazer aos EUA em outubro. Hoje, o Planalto confirmou que cancelou a ida aos EUA, no sábado (6), de uma equipe brasileira que faria os preparativos da viagem oficial da presidente.
O governo não confirma se a equipe agendará nova data para a viagem.
Na segunda-feira (2), o ministro de Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, classificou o episódio como “uma inadmissível e inaceitável violação da soberania brasileira” e pediu “explicações formais por escrito” –ainda que adotando cautela quanto a eventuais retaliações brasileiras.
A assessoria do vice-presidente americano, Joe Biden, disse que os EUA “continuarão a trabalhar com as autoridades brasileiras” para explicar as denúncias de espionagem e agregou que “o convite para a visita de Estado da presidente Rousseff reflete o interesse dos EUA em aprofundar esse relacionamento vital”.
(Com agências internacionais)