Na semana passada, o deputado estadual por São Paulo, Artur do Val (Podemos), revelou em áudios um comportamento que deveria surpreender zero pessoas no Brasil. Quem se horrorizou com a fala machista e desrespeitosa do parlamentar ou está numa realidade paralela ou é o mesmo que se enganou achando que o MBL (Movimento Brasil Livre), ONG financiada pelas fundações Koch e Ambev e da qual ele é um dos líderes, tinha objetivos nobres para nosso país e seu povo.
“Mamãe, Falei”, como Artur do Val se apresentou ao eleitor para receber mais de 400 mil votos em São Paulo em 2018, refletiu em áudio gravado na Europa o que as mulheres brasileiras enfrentam todos os dias no trabalho, na escola, na vizinhança, na comunidade: desrespeito, assédio, violência. Dizer que uma mulher em situação de vulnerabilidade é “fácil” foi apenas a radicalização de um comportamento comum na sociedade brasileira.
Fosse o Brasil uma nação que exercita a cidadania, o parlamentar nem seria mais recebido no aeroporto na condição de deputado. Seu mandato teria sido cassado por rito sumário e responderia a um processo judicial. Mas convivemos aqui com a leniência conveniente ao malfeito. Marielle, mulher lutadora, que denunciava os criminosos como vereadora na Câmara do Rio de Janeiro, foi assassinada há quatro anos. Seus assassinos continuam livres, alguns dos suspeitos desfilando em tapetes na capital federal.
O 8 de Março, que deveria ser uma data a comemorar, lamentavelmente, ainda é um dia para exercitarmos a nossa resistência. Num dia em que deveríamos fazer festa ao avanço, ainda estamos falando de cidadania. Estamos reclamando de um deputado que incentivou o abuso sexual de mulheres vulneráveis. Um sinal de que, como sociedade, o Brasil precisa se olhar. Não se trata de uma luta política, ideológica, religiosa: direita/esquerda, liberalismo/intervencionismo, catolicismo/pentecostalismo. Aqui estamos a tratar sobre civilização X barbárie.
Quis o destino que “Mamãe, Falei” se mostrasse ao mundo às vésperas do 8 de Março. Para nos forçar a visita ao espelho. Até semana passada, ele se propunha a governar o maior estado do Brasil. Já havia sido, em 2018, o segundo deputado estadual mais votado por São Paulo. Não nos esqueçamos que temos presidente eleito por 58 milhões de pessoas um político que defende a tortura, que acha que negros são seres inferiores, que diz que ter gerado uma filha mulher foi uma fraquejada, que defende que as mortes pela covid é o fluxo normal da vida e que prefere um filho ladrão que homossexual.
Aproveitemos. Esse Dia Internacional da Mulher é mais uma chance para o Brasil e os brasileiros.
Salvador, 08 de março de 2022 | Boletim 2566